Por incrível que pareça, em pleno 3º milênio, ainda há quem caia no chamado conto do vigário. As modalidades são várias, desde o bilhete de loteria premiado, passando pela herança, e muito mais. Quem é enganado está, com certeza, achando que é esperto e que será fácil ganhar um bom dinheiro enganando alguém, no caso, o vigarista.
Outro dia fui surpreendido por uma oferta praticamente irrecusável: um velho conhecido, com quem costumava bater longos papos nos finais de semana, mostrou-se preocupado com o fato de viver só, longe dos filhos e demais parentes, podendo passar mal ou morrer de uma hora para outra. Tendo trabalhado por muitos anos, conseguiu acumular uma boa poupança, aplicada em fundo de investimento e caderneta de poupança.
Confidenciou-me que procurava alguém em quem confiasse para transformar sua conta bancária em conjunta, com o compromisso de que, caso ficasse doente, o dinheiro seria usado no seu tratamento. Em caso de sua morte o dinheiro seria entregue aos filhos, conforme uma carta que ele deixaria com as instruções e percentuais.
Aparentemente isso seria motivo de orgulho para qualquer um que recebesse a proposta. Haveria maior demonstração de confiança do que essa? Quem garantiria que eu, ou qualquer pessoa que topasse dividir a conta, não sacaria o dinheiro e deixaria o velho na mão? Mas ele mostrava confiar na pessoa.
É aí que mora o perigo!
Claro que não aceitei. Agradeci a prova de confiança mas disse que um dos filhos, em quem ele disse não confiar, deveria ser o seu parceiro na conta conjunta, não um estranho. Expliquei que a poupança de uma vida não poderia ficar numa conta compartilhada com alguém que ele mal conhecia. Quem garante que, com a sua morte, seu desejo seria atendido? Afinal, o compromisso seria com ele, que estaria morto, não com os filhos.
Ele agradeceu e o assunto morreu por aí.
Soube, tempos depois, que ele fez o negócio com um outro amigo, que aceitou ajudá-lo. E assim mantiveram, durante algum tempo, a conta conjunta solidária. Dizem até, que o amigo depositou suas economias nessa mesma conta, retribuindo a prova de confiança.
Até que um dia, como esperado, o golpe foi aplicado. Não pensem que o meu amigo foi a vítima. Muito pelo contrário. Sendo cliente antigo do banco, com alguma poupança, usou seu crédito para levantar um grande empréstimo. Não preciso dizer que sacou tudo, a sua poupança e a do amigo, além do empréstimo que havia feito. Desapareceu, deixando o amigo sem dinheiro e com uma dívida para pagar.
Havendo dinheiro envolvido, todo cuidado é pouco. Não se deve confiar em ninguém. Recentemente um casal de idosos foi detido no aeroporto ao tentar embarcar para o Brasil com drogas na bagagem. Havia aceitado levar a encomenda de um amigo, sem saber o que havia no embrulho. Foram embrulhados!
Mui amigo!